Há dois mil e vinte e dois anos ele nasceu – e desde então nós passamos a considerar o próprio conceito de tempo a partir desta data. Há o que existia antes dele. E há o que existe depois dele.
Nenhuma figura foi tão discutida desde que a espécie humana surgiu há trezentos e cinquenta mil anos no leste da África. Ninguém também foi tantas vezes retratado. Ele é o líder incontestável – a quilômetros de distância do segundo colocado – de aparições na música, na literatura, na pintura e no cinema. Da Capela Sistina ao Senhor dos Anéis. Do Museu do Louvre aos varais da literatura de cordel. De Johann Sebastian Bach a Johnny Cash. Ninguém foi tantas vezes lido, desenhado ou cantado – e nenhuma vida alcançou tanta gente.
Para bilhões de pessoas ele é literalmente o dono do universo. E não por acaso parte importante do que se discute na filosofia, na ciência política ou na história diz respeito ao curto espaço de tempo em que ele existiu.
Seu nascimento é um acontecimento tão importante para a humanidade que ainda hoje é comemorado em todo o mundo. Da Times Square ao agreste baiano, passando por Adis Abeba, Manila, Moscou e Seul.
Em todo o planeta, aliás, parte significativa do nome das próprias pessoas homenageiam a sua história – dos incontáveis Josés às infindáveis Marias, passando por aqueles que recebem nomes como Lucas, Paulo, Ana, Mateus, Pedro, Marcos, Marta, João, Tiago, em diferentes traduções para inúmeros idiomas.
Coerentemente, uma parcela importante dessas pessoas vivem em ruas, bairros, cidades, estados e países que homenageiam elementos ligados à sua história. Do Espírito Santo a São Paulo. De San Francisco a Los Angeles. De Santiago a Saint-Étienne. Caso um alienígena estacionasse em solo terrestre, descobriria 20.808 lugares citando nominalmente figuras ligadas ao seu universo apenas no continente europeu – comunicando ao seu planeta que um único sujeito monopoliza a atenção da maior parcela dos terráqueos.
De qualquer perspectiva que se encare, ele é inquestionavelmente o indivíduo mais relevante da humanidade. E seguindo todos os passos daquilo que, com qualquer outra pessoa, ignoraríamos solenemente nos livros de História.
Você deve conhecê-la, mas nunca é demais repeti-la.
Yeshua nasceu pobre, numa pequena aldeia no interior da Palestina, filho de um carpinteiro. Seu nascimento é retratado como um fracasso retumbante: rejeitado por seus pares, sem nenhum glamour, sujo, num canto inóspito de uma estrebaria.
Da maior parte da sua vida, não temos acesso a qualquer detalhe. Do que sobrou, sabemos que foi julgado bandido, condenado à morte, torturado e ridicularizado pelo seu próprio povo.
Diferentemente de figuras como Ramsés II, Átila, Luís XIV ou Alexandre Magno, Yeshua não conquistou qualquer território, não fez qualquer fortuna, nem foi coroado líder político de qualquer governo. Pelo contrário. A sua vida pode ser resumida como um imenso fiasco aos olhos da modernidade – entregue à miséria, à dor, à traição e à castidade.
Ainda assim, a sua história continua a ser contada repetidas vezes todos os dias, tomada como um exemplo a ser seguido, celebrada das mais diferentes formas – inclusive seculares, capazes de reunir mesmo figuras que não acreditam em seu status divino para comemorar o seu nascimento, presentear os que estão próximos e despertar um desejo súbito de felicidade à humanidade.
Dois mil e vinte e dois anos depois daquela noite, aquele menino ainda permanece vivo.
Feliz Natal.
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